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Meu Pai, vítima do cigarro

"Não sei por que você se foi, quanta saudade eu senti. E de tristezas vou viver. E aquele Adeus, não pude dar..." Música: Gostava tanto de você. Artista: Tim Maia





Na verdade eu sei sim porque você se foi, Pai. De tristezas não vou viver, pois tive que me reerguer após a sua partida e hoje quero ajudar a quem eu puder.

E aquele Adeus, eu dei, eu pude dar. Afinal eu fui o último a ver te com vida. Naquele estado em que você se encontrava nem sei se dá para chamar de vida, né, Pai? Talvez "sobrevivência" seria o melhor termo, pois tinha tanto fio, tanto equipamento à sua volta que você mais parecia um Transformer do que um ser humano.

No mês de Setembro daquele ano, precisamente em 2015, Percebi que você não estava bem, juro! Porque Alguém que sempre disse que ir ao médico era "frescura" e de repente se vê em observação hospitalar. Isso deve ter gerado uma contradição enorme dentro de ti.

Sei que estava com medo, Pai. Justamente por sua demonstração de força ao longo da sua vida, da nossa vida atrelada à sua. Ver sua ir por água abaixo em questão de minutos deve ter doído e sido assustador para você. Imagino a importância da sua tomada de decisão, ao pedir ajuda à um de seus três filhos para lhe socorrer. Ainda mais em um final de semana e perto da meia noite. Mas se você pediu é porque a "p***a tava séria né? E que surpresa foi aquela? Em apenas alguns dias depois de ir e ficar no hospital recebermos a notícia de uma amputação? Logo em você, o herói, batalhador, o exemplo? Como assim, cortar um dedo do pé? Do meu Pai? Não, ele é indestrutível. Não conheço ninguém mais forte que esse cara.

Você tinha os seus defeitos? Tinha e não eram poucos. Assim como as suas qualidades eram enormes e abundantes. Sempre que me pego pensando em você, eu tento extrair tudo o que você me ensinou. A minha resposta é: Meu Pai era "foda" pois ele sabia ensinar de todas as formas.  Sabia o certo do jeito certo e também ensinar o certo de forma errada.

Ah, Pai se você tivesse tido a oportunidade que tenho hoje. Se tivesse lido livros, assistido a vídeos educativos e explicativos sobre o mal que o tabaco / tabagismo / vício imbecil causam, você teria parado e hoje estaríamos assistindo juntos, aos jogos do seu Palmeiras.

Você deu sorte também. Acho que Deus foi generoso com você. Pois hoje, talvez neste exato momento deve ter alguém morrendo por consequências do fumo. E este alguém pode não ter a oportunidade de ver: Seus filhos criados e sendo homens de bem. Disse homens de bem, de valores bem definidos e sabendo o que querem. Homens de verdade e não putas. Com todo respeito às Putas.
Alguém morrendo agora, pode não ver seus netos, bisnetos. Podem não ver o mar de novo. Tomar um chope com os amigos. Pode não jogar o carteado que você tanto gostava, não é mesmo?

De tudo que me ensinou, mesmo do jeito errado, o que mais demorei assimilar foi que eu não deveria ter fumado o primeiro cigarro. Que não deveria ter chegado tão perto. Talvez se pudesse voltar no tempo, eu te olharia com os olhos cheios de lágrimas, igual ao "gatinho do Sherek" e te diria: Pai, pare! Pare imediatamente, pois em 2015 você vai morrer! Mas enfim, só consigo isso quando faço auto-hipnose e volto nas minhas lembranças a fim de reprogramar as representações dos acontecimentos passados. Quando faço isso me aproximo de você em cada detalhe. No abraço, na voz, no cheiro do perfume barato que era sua marca registrada, o Tres Marchand.

Em relação ao cigarro, como não me aproximar, né? A juventude da minha época achava descolado e meu ídolo fumava desde criança, logo eu entraria para este mundo, pois era apenas questão de tempo.

Ainda bem que parei, Pai. E olha que depois de sua partida eu ainda fumei por 2,5 anos. E por um bom tempo eu segui a rotina da sociedade, me martirizando e dizendo o quanto eu sentia a sua falta. E entre os dedos nestes momentos, lá estava o maldito cigarro. Mas me libertei, viu. Estou à 6 meses sem fumar. A meta para o próximo ano é ficar 7 meses. E quando chegar nos 7 eu faço um adendo no meu contrato e acrescento mais 5 meses. Terei que ser Foda, Pai, mas ser Foda foi o que você nos ensinou. A diferença é que hoje eu sou Pai também. Ainda bem que você teve o prazer de conhecer o Enzo e ver o quanto ele é especial para mim.

E mais um ensinamento seu que adaptei para mim:
VOU ENSINAR O ENZO DO JEITO CERTO À FAZER O CERTO.

Não sei como você entenderá o texto abaixo, mas segue uma dica, As palavras vieram lá do fundo da minha alma:

---------

Tchau, Pai...

Ainda no buteco, Teleco?
Com certeza terei que te buscar;
Por que a voz da Mãe vem lá do fundo do quintal;
Atravessando paredes e cortando o vento em forma de eco.

E de tanto em tanto persistir;
Você chegará até aqui;
O começo da despedida anunciada;
E eu sabia que um dia, sem mudar o padrão daquilo;
Você iria partir.

Do dedinho do pé;
Ao enfisema no pulmão;
Que pode sim ter afetado o coração;
Te levou à ter fé, depois da procrastinação.

Você sabia o que tinha que ser feito;
Parar de fumar e beber era uma obrigação;
Desde o primeiro problema no peito;
A Mamãe, o médico, amigos, colegas e tantos outros te alertaram;
Só faltou o prefeito.

Quem fazia parte do seu mundo em meados de 1995, pedia para você tomar jeito.
Sei que neste quesito empenho lhe faltava;
Seu refúgio era o que lhe furtava;
Chegava do trabalho e corria para bar, talvez para beber;
Ou num bate papo com seus "parças" apenas fumar.

De madrugada quem cantava era você;
Os galos era você quem acordava;
Que exemplo! Que Pai! Que compromisso;
Me inspirava tanto em você que em algumas vezes, de banho tomado e pronto para segurar a sua mão num passeio, relevava os seus sumiços. Eu sabia onde Tu estavas, mas se abriu mão de sair comigo, de alguma forma seu destino era ali onde você se encontrava, porém ali queria estar sozinho.

Que b***a, Pai, por que você não se perguntou antes o que você estava fazendo da sua vida?

Sim, eu parei. Eu não fumo.
Só espero ter parado a tempo.







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